Pesquisa revela hábitos de leitura de estudantes do Ensino Médio do Campus São Vicente do Sul
O gosto pela leitura nem sempre acompanha a rotina de adolescentes, especialmente em tempos de redes sociais e excesso de estímulos digitais. Consciente desse desafio, um grupo de professoras do IFFar - Campus São Vicente do Sul decidiu transformar essa realidade em objeto de estudo.

Pesquisa do Campus São Vicente do Sul revela hábitos de leitura dos alunos do ensino médio integrado /Créditos: Andreza Tasiane da Silva - Ascom - IFFar - Campus São Vicente do Sul
Assim, em 2021, nasceu o projeto “O perfil do leitor no IFFar-SVS: ensino integrado e leitura”, uma pesquisa que busca compreender como os alunos dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio da unidade se relacionam com os livros, quais são suas preferências, dificuldades e de que forma o hábito da leitura pode ser fortalecido no espaço escolar.
A iniciativa, segundo a coordenadora, professora Ana Cláudia de Oliveira da Silva, surgiu da inquietação de um grupo de professores da área de Letras, com o baixo índice de leitura observado entre esse público. “Sempre foi uma preocupação nossa incluir práticas pedagógicas de incentivo à leitura de literatura aos estudantes, apesar das dificuldades desse processo entre adolescentes que pouco leem”, explica.
Diagnóstico da leitura juvenil
Inspirada na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a equipe decidiu aplicar um questionário semelhante com os alunos do campus, adaptando as perguntas para a realidade local.
O instrumento de pesquisa já foi aplicado em duas edições, em 2021 e 2023, e envolveu mais de 400 estudantes. Dividido em quatro blocos, o questionário aborda desde dados socioeconômicos até os gostos literários dos jovens. Entre os resultados, segundo Ana Cláudia, chama a atenção a média de 6,7 livros lidos por ano, número bem acima da média nacional, que é de 2,6.
Entre as motivações mais citadas pelos estudantes para a leitura estão: o prazer, o crescimento pessoal e a distração. E quando se trata de preferências, despontam gêneros como mistério, distopia e fantasia, ao lado da prosa ficcional clássica e dos quadrinhos.
Os títulos mais lembrados pelos jovens refletem, além do cânone escolar (obras que fazem parte do currículo da escola), a influência das redes sociais e da cultura pop. Obras como 1984 (George Orwell), O Diário de Anne Frank (Anne Frank) e a série Harry Potter (J.K. Rowling) convivem com best-sellers mais atuais como É assim que acaba, de Collen Hoover, e Os sete maridos de Evelyn Hugo, de Taylor Jenkins Reid. “Isso mostra que o leitor jovem não se limita ao que é exigido em sala de aula, mas busca referências que circulam na mídia e no seu grupo social”, analisa Ana Cláudia.
Além disso, os dados revelaram um quadro socioeconômico importante para compreender os contextos de leitura: a maioria dos estudantes vêm de famílias com renda de até dois salários mínimos e teve sua formação inicial em escolas públicas. Esses fatores, segundo a professora, ajudam a explicar tanto as barreiras quanto as possibilidades de acesso aos livros e à biblioteca.

Fonte: Dados do projeto " O perfil do leitor no IFFar - SVS: ensino integrado e leitura"
Os bastidores da pesquisa
O projeto conta com a participação de três professoras (coordenadora, vice-coordenadora e colaboradora), mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) e um bolsista CNPq de iniciação científica. Atualmente, quem exerce essa função é Guilherme Grass, aluno do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do IFFar - Campus São Vicente do Sul. No segundo ano da graduação, ele passou a integrar a equipe em 2024, após ser indicado por um amigo que já havia participado da pesquisa.
Desde então, o estudante tem atuado em várias frentes: na análise e comparação das respostas dos questionários aplicados em edições anteriores, na colaboração com a elaboração dos novos formulários e na criação de materiais de divulgação, como banners, marca-páginas e postagens para o Instagram do projeto.
“Apesar de o projeto não ser da mesma área da minha faculdade, ele me permite desenvolver um interesse pessoal, que é o design. Uma das partes que mais gosto é a criação dos materiais visuais - postagens, mimos, comparações e análises. É muito gratificante ver algo que eu produzi sendo usado para divulgar a pesquisa e incentivar outras pessoas a lerem”.
Mesmo já sendo leitor antes de ingressar no projeto, Guilherme afirma que a experiência transformou sua relação com os livros e a forma como enxerga o ato de ler. “Eu já tinha o costume e o gosto pela leitura, mas participar da pesquisa me fez desenvolver um olhar mais atento e crítico. Passei a perceber detalhes que antes me escapavam e a refletir mais sobre o que leio.”
Para ele, acompanhar os resultados dos questionários também tem sido bastante interessante. “Já deu pra notar que muitos estudantes têm dificuldade em manter o hábito da leitura, seja pela rotina ou por falta de incentivo. Ao mesmo tempo, dá pra ver o quanto os gostos variam - tem gente que prefere fantasia, outros gostam de suspense, ou histórias baseadas em fatos reais. Essa diversidade é o que torna o projeto interessante”.
Além do aprendizado técnico e da prática de design, o bolsista destaca que o contato com o tema da leitura ampliou sua visão sobre o papel da educação e da pesquisa. “Entender como os adolescentes leem e o que os motiva é fundamental, pois nos permite analisar as dificuldades que eles enfrentam e, assim, pensar em soluções para resolver esses problemas”, conclui.

O bolsista Guilherme Grass (esq) ao lado das coordenadoras do projeto, professoras Ana Cláudia de Oliveira da Silva (dir) e Andriza Pujol de Ávila (centro)/ Créditos: Divulgação
Mais que números, uma missão
Mais do que estatísticas, a pesquisa tem gerado reflexões. Para Ana Cláudia, um dos impactos mais relevantes ocorre quando o próprio estudante se depara com as perguntas do questionário. “Esse exercício ajuda o jovem a construir sua imagem como leitor. Além disso, os dados orientam professores e projetos, permitindo pensar práticas mais próximas dos interesses dos estudantes”.
Os resultados das aplicações anteriores, inclusive, já têm inspirado novas ações no campus, como rodas de leitura, campanhas de incentivo e atividades integradas às disciplinas. Ao mesmo tempo, as análises têm revelado desafios importantes, como as dificuldades para manter o hábito da leitura fora da escola e a pouca familiaridade dos alunos com o ambiente da biblioteca

Estudantes do Ensino Médio Integrado e professoras do Campus São Vicente do Sul durante bate-papo com a autora Mariana Salomão Carrara realizado em 2024/ Créditos: Divulgação
A próxima aplicação do questionário está prevista para os meses de outubro e novembro de 2025, quando novos dados devem atualizar o retrato desses leitores. Até lá, a expectativa é que os resultados já obtidos continuem inspirando ações de incentivo à leitura e fortalecendo a compreensão de que o acesso aos livros é um direito cultural fundamental.
Como resume a professora Ana Cláudia, “investigar o perfil do jovem leitor no IFFar não é apenas levantar estatísticas: é contribuir para a formação de cidadãos críticos, conscientes e com mais possibilidades de inserção social por meio da literatura”.
https://iffar.edu.br/noticias-svs/item/43357-de-george-orwell-a-colleen-hoover-h%C3%A1bitos-de-leitura-de-estudantes-do-ensino-m%C3%A9dio-integrado-campus-s%C3%A3o-vicente-do-sul#sigProId21aa3f03b0
Secom
Redação: Daniele Vieira - estagiária de Jornalismo
Revisão: Rômulo Tondo - Jornalista
Fotografia: Andreza Tasiane da Silva - Ascom - IFFar - Campus São Vicente do Sul
Coordenador de conteúdo: Elisandro Coelho - Relações Públicas
Redes Sociais